Falar sobre Six Feet Under é sempre uma tarefa complicada pra mim, então desde o princípio fiquei relutante se deveria escrever sobre ela, ou se seria melhor esperar um futuro episódio do podcast para abordar melhor os assuntos tratados. Por isso, nesse texto irei abordar um ponto central que está em torno de todas as temporadas da série: A vida.
Sendo uma das produções mais aclamadas da HBO, e considerada por muitos como "O melhor final da história da televisão", Six Feet Under nos conta a história dos Fisher, uma família disfuncional (ou seria pleonasmo?) que precisa se unir após a morte de Nathaniel Fisher, pai e dono da funerária que fica no mesmo ambiente em que os nossos protagonistas moram.
Desde o início dessa jornada somos apresentados ao característico tom ácido/melancólico e estrutura que os episódios terão ao longo de suas cinco temporadas: uma morte, e o seu impacto na vida dos funcionários daquela funerária (sendo abandonado em certo ponto de sua derradeira temporada). E que maneira melhor de começar a série, se não sendo pelo próprio dono da empresa virando o cliente?
Nós conhecemos intimamente e nos relacionamos, de alguma maneira, com todos os quatro protagonistas ao longo de toda a história. A sacada de constantemente colocarem um personagem morto tendo diálogos com os vivos, faz com que nós tenhamos acesso à todo e qualquer sentimento que esteja sendo escondido dentro do jogo de aparências familiar, nos deixando ainda mais envolvidos com as dores de cada membro do quarteto.
Nathaniel Jr., David, Claire e Ruth Fisher são os pilares da trama, e compõem o meu panteão de personagens favoritos do mundo das séries, a maneira como eles se complementam e tornam cada interação única, é algo lindo de se ver, mesmo nos momentos mais reprováveis de cada um.
A vida
Através do humor mórbido e discussões filosóficas, a vida é representada da maneira que mais se alinhou com as minhas convicções pessoais, algo que honestamente nunca tinha visto em nenhuma obra audiovisual.
Desde criança fui cercado pela morte precoce de diversos familiares, similar ao que aconteceu com Nate Jr., que tenta de qualquer maneira fugir daquele ambiente que o traumatizou, mas que nunca consegue desapegar daqueles que ama. Já em David, um homem gay que cresceu reprimido e tem dificuldades para se relacionar romanticamente, vemos como o preconceito e fanatismo cego foi, e segue sendo prejudicial à qualquer pessoa que são ditas como "diferentes", e Claire, uma jovem que se acha no meio artístico e faz disso seu propósito de vida, compõem os irmãos dessa família. Por último, e não menos importante, temos Ruth Fisher, uma mãe solitária de meia idade que não sabe seu propósito após ver seus filhos já crescidos, e consegue ter novas perspectivas de vida, após sair de sua zona de conforto.
A morte
Agora entraremos em uma zona de spoilers, então se você ainda não assistiu a série completa, faça um favor a si mesmo e vá assistir, e depois volte aqui.
Eu considero que a série tem três episódios finais, começando com a morte de Nate (Final do episódio 9/consequências no episódio 10), e terminando com a morte de Claire (Final do episódio 12). E estes são os momentos em que mais me emocionei em toda a minha jornada como assistidor de seriados; a magistral montagem com Claire dirigindo na rodovia em busca de seus sonhos, e os flashforwards de como todos os membros da família e amigos irão morrer é algo que eu jamais preveria, mesmo imaginando que veria uma despedida impactante.
Vemos o ciclo se fechar de maneira mais crua e verdadeira, que todos nós iremos passar em algum momento, sem tempo de arrependimentos, cobranças, ou qualquer preocupação que temos no dia a dia. E no final das contas, a única coisa que todos os seres humanos têm em comum é isso, né? Em algum momento, não estaremos mais aqui.