Histórias brasileiras dificilmente ganham espaço no cenário atual do audiovisual, e principalmente nas séries, vemos que há uma repetição de temáticas e esteriótipos que se saturaram com o passar do tempo, porém, ainda sim continuam tendo grande atenção na indústria já consolidada. É de se aplaudir a distribuição e divulgação da Amazon Prime Video com "Manhãs de Setembro", que conta com a cantora e atriz Liniker no papel principal, que genialmente traz vida à uma jovem trans que deixa sua cidade natal para se aventurar em São Paulo, buscando sua independência e lugar no mundo.
O maior trunfo da série nos é apresentado logo nos primeiros minutos, na forma singela e delicada de abordar assuntos tão complexos, o fato de Cassandra ser uma motoqueira e artista que se vê em um turbilhão de emoções após a descoberta de que supostamente possui um filho que é fruto de sua relação com Leide (Karine Teles) de anos atrás na qual ela mal se recordava, e a dificuldade em conciliar sua vida profissional, com a pessoal, após essa grande mudança.
Na premissa, não vemos nada novo, mas a execução é tão bem trabalhada, que faz com que tudo brilhe de uma forma única. A direção da série nos ambienta muito bem desde o início: estamos em uma São Paulo suja, decadente e precária, que ganha vida de verdade quando vemos a nossa protagonista soltar a voz pela primeira vez em cena, com a música "Manhãs de Setembro". Além disso, o roteiro tem uma agilidade invejável, com apenas cinco episódios nessa primeira temporada, o que nos deixa com uma saudades instantânea após terminarmos a série. Com uma química linda entre a nossa motogirl e Gersinho (Gustavo Coelho), vemos dilemas e situações que pessoas da comunidade LGBTQ+ passam diariamente, a complexidade familiar em seu cerne.
Outro destaque vai para os coadjuvantes, Ivaldo, vivido por Thomas Aquino, e o adorável casal Décio e Aristides, interpretados por Paulo Miklos e Gero Camilo, respectivamente. A série também nos presenteia ao longo dos episódios, como a participação de Linn da Quebrada, e a grande ode à Vanusa que está intrínseca na narrativa desde o início, sendo parte vital da trama e a grande voz da consciência de nossa protagonista. Temos aqui uma carta de amor em forma de série, essa é a melhor definição para Manhãs de Setembro.